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27 de jun. de 2020

abstração construída (2020)





Este experimento audiovisual - "abstração construída" (2020) - parte de uma composição homônima, elaborada através de meios eletrônicos e concluída 10 anos atrás (mais precisamente em 10 de julho de 2010), consequência de reflexões e estudos acerca de um mesmo som, seus satélites e seus silêncios, de um único desenho rítmico e seus desdobramentos, abstração que, não obstante, apoia-se na forma-sonata, ainda que estilizada. Apesar de suas modestas proporções, resulta de uma admiração incondicional pelas obras de Giacinto Scelsi e Toru Takemitsu.

"plena pantomima" - com Tania Clemente e Edson Tobinaga





"plena pantomima"

atarantado ritmo de que tudo se espera, menos compasso de espera
a me atravessar as vísceras entupidas de quimeras
navalhando o que, alheio à alma, nascera disciplinado

ritmo atarantado
a engolfar, num turbilhão, as rimas em branco
as brancas rosas
os grisalhos
outonos
e o sono
quase em abandono
(prenúncio de clarão da lua)

atarantado ritmo e ocasos, por acaso, nada ocasionais: o ritmo
e, por dentro, o tráfego tipicamente brasileiro de saudades
- a impressão de ter visto a sombra do pierrô
em plena pantomima
no vão livre dos mapas

ritmo atarantado
em trilhas porque qualquer quixote caberia em seu delírio
as trilhas
(sim!)
as trilhas
ladrilhos de Tomie
o metrô está mais bonito assim
eu escreveria um poema fumegante pelos túneis
e adormeceria em toneis de neblina paulistana

no entanto, detenho minhas mãos para mandolina
em rosas que nada soam:
apenas tremeluzem em sua palidez dulcíssima numa lágrima

lágrima:
pétala de lua

Edson Tobinaga
Poema de setembro de 2000, revisto em maio de 2020

Tania Clemente, declamação
Edson Tobinaga, violão